sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Ano 2012 a caminhar para......novo Ano 2013



Para todos os meus desejos sinceros de um Natal Feliz e que o Ano Novo, que está aí à porta, recheado de esperanças! que lhes traga a Paz interior, condição necessária para a realização de todos os nossos anseios.


    Como diria Ary dos Santos:

Tu que dormes a noite na calçada de relento, numa cama de chuva com lençóis feitos de vento
Tu que tens o Natal da solidão, do sofrimento és meu irmão amigo, és meu irmão
E tu que dormes só no pesadelo do ciúme, numa cama de raiva com lençóis feitos de lume e sofres o Natal da solidão sem um queixume, és meu irmão amigo, és meu irmão.

Natal é em Dezembro, mas em Maio pode ser, Natal é em Setembro, é quando um homem quiser
Natal é quando nasce uma vida a amanhecer, Natal é sempre o fruto que há no ventre da mulher

Tu que inventas ternura e brinquedos para dar, tu que inventas bonecas e comboios de luar e mentes ao teu filho por não os poderes comprar, és meu irmão amigo, és meu irmão
E tu que vês na montra a tua fome que eu não sei, fatias de tristeza em cada alegre bolo-rei, pões um sabor amargo em cada doce que eu comprei, és meu irmão amigo, és meu irmão

Natal é em Dezembro, mas em Maio pode ser, Natal é em Setembro, é quando um homem quiser
Natal é quando nasce uma vida a amanhecer, Natal é sempre o fruto que há no ventre da mulher.

sábado, 3 de novembro de 2012

Alma...



 
O pensamento é triste; o amor, insuficiente;e eu quero sempre mais do que vem nos milagres.
Deixo que a terra me sustente:
guardo o resto para mais tarde.
Deus não fala comigo - e eu sei que me conhece.
A antigos ventos dei as lágrimas que tinha.
A estrela sobe, a estrela desce...
- espero a minha própria vinda.

Navego pela memória
sem margens.

Alguém conta a minha história
E alguém mata os personagens.

sábado, 22 de setembro de 2012

Fui eu?

 
Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem achei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê, Quem sente não é quem é, Atento ao que sou e vejo, Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem, Assisto à minha passagem, Diverso, móbil e só, Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo, O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li O que julguei que senti.
Releio e digo: Fui eu?
 
 
 
"Fernando pessoa"
 
 


quarta-feira, 23 de maio de 2012

Diz-me amor...


Diz-me, amor, como te sou querida,
Conta-me a glória do teu sonho eleito,
Aninha-me a sorrir junto ao teu peito,
Arranca-me dos pântanos da vida.

Embriagada numa estranha lida,
Trago nas mãos o coração desfeito,
Mostra-me a luz, ensina-me o preceito
Que me salve e levante redimida!

Nesta negra cisterna em que me afundo,
Sem quimeras, sem crenças, sem turnura,
Agonia sem fé dum moribundo,

Grito o teu nome numa sede estranha,
Como se fosse, amor, toda a frescura
Das cristalinas águas da montanha!
Florbela Espanca, in "A Mensageira das Violetas"

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Breve ilusão

Que bem que me faz agora o mal que me fizeste. E sem ironia aceita a minha eterna gratidão, mas não me mereces-te! diz Florbela Espanca a quem foi um dia o seu amor

Por tudo o que me deste
inquietação cuidado
um pouco de ternura
é certo mas tão pouca
Noites de insónia

Pelas ruas como louca
Obrigada, obrigada
Por aquela tão doce
e tão breve ilusão

Embora nunca mais
Depois de que a vi desfeita
Eu volte a ser quem fui
Sem ironia aceita

A minha gratidão
Que bem que me faz agora
o mal que me fizeste
Mais forte e mais serena

E livre e descuidada
Sem ironia amor obrigada
Obrigada por tudo o que me deste

Por aquela tão doce

e tão breve ilusão
Embora nunca mais
Depois de que a vi desfeita
Eu volte a ser quem fui

Sem ironia aceita
A minha gratidão



Florbela Espanca
(1894-1930)