domingo, 15 de junho de 2008

...

Toda a minha vida
Vivi numa redoma de vidro

Tentei infinitas vezes
Estilhaçar tal prisão
E por alguns anos,
Anos áureos que vivi,
Julguei tê-la quebrado
Por fim

Hoje dou por mim
Novamente a ver a vida
Passar lá fora
Num misto de realidade e ilusão
Que já não distingo
Quando julgo poder tocá-la
Sinto o vidro

Se houve tempos
Em que lutei
Com todas as minhas forças
Eles passaram!

Hoje continuo a ter a mesma sensação
De vida não vivida
De mera espectadora
Aprisionada no olhar
Sem nunca ter conseguido voar

Com os punhos cerrados
Lavados em sangue
Tentei quebrar
Tal prisão
Mas foi em vão

Esgotada e ferida
Finalmente apercebi-me
Que jamais o conseguiria
Desisti!

Se por alguns anos apenas
Julguei estar livre
Mais não foi
Do que uma mera ilusão
Gerada pelo reflexo
Da vida dos outros

Nas paredes planas e frias
Do vidro cristalino
Que sempre me cercou

Já desisti de tocar
Quem passa
De andar
Para a frente e para trás
Enjaulada
De mudar seja o que for


A realidade
É que logo bato numa parede
Fria
E cristalina
Enganadora
Mas real
E todo o meu esforço
É fracasso
E dor

Hoje já não luto
Já não tento entender
Nem sequer pretendo ver
Olhar para fora

Hoje até me tapo de negro
Para que a luz que atravessa o vidro
Não me fira
Nem me traga imagens
Da vida que nunca poderei ter

Hoje sou eu
Quem se fecha sobre si mesma
Querendo já
Que a redoma não fosse vidro
Mas somente pedra

Sem sons, sem vida
Sem nada
Que me pudesse fazer desejar tal vida
Para que esquecesse
Finalmente tudo
O que jamais poderei ser

Hermética, pura
Mas perdida
Recolho-me aos confins
De mim mesma
Devorando-me
Numa alma sem cor

Já não quero nada!
A luz encadeia-me
Os sons atordoam-me
Os movimentos desnorteiam-me

Num recanto
De um quarto escuro
Escorrego meu corpo
Caído numa parede fria

No chão choro
Mas as lágrimas gelam à saída

Atordoada
Numa angústia sem fim
Mutilada por dias iguais
Banais

Já nada espero...


"Estarás sempre aqui.Prefiro viver bebendo da tua ausência,Do que morrer à sede de ti."

2 comentários:

take.it.isa disse...

estamos a precisar de um karaoke bem temperado!

somos feitos de elástico. batemos no fundo, mas logo voltamos à tona.

beijo, querida xana

Helder Ribau disse...

Olá...

vim visitar este (en)canto.. e dizer que regressei...

Helder