sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

O Seu Rosto Branco...

Em tantas casas e praias fui falando.
Estava de copo na mão a saber que me olhavam;
ao sol e quase nu de bruços no calor da areia.
Com os lábios perturbava a saliência de uma orelha,
na minha perna direita repousava, dócil, a face esquerda
de um rosto, pele misteriosa. Os convidados
da festa decidiam partir. Quebrava-se o andar da noite,
eu vi-me só, posta em perigo a minha sede, toda
a ternura. Perseguíamos o prazer, talvez a imagem
da infância, esperávamos pelo sentido dos dias.
A rapariga japonesa tinha-me dito: você quer beber?
E também ela partira, o seu rosto branco
levara para longe a sugestão das flores de cerejeira.




João Camilo in «A Mala dos Max Brothers»,
Editorial Caminho, Lisboa 1988

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