domingo, 24 de fevereiro de 2008

Quanto desejo...

O desejo é um instinto à beira da consciência. Já não é a pulsão animal que desencadeia a acção sem filtro racional. Desejar implica ter já claro o objecto do desejo. Sei o que desejo, mesmo se não racionalizo ainda sobre as razões que me fazem desejar. É uma meta que se me impõe; uma promessa de saciedade. Mas não é, ainda, um acto plenamente consciente.
A racionalização consciente sobre o objecto do desejo e a planificação racional da acção com vista à consumação pode, até, anular ou destruir o próprio desejo. E, de facto, muitas vezes o faz. Não consumamos a maior parte dos nossos desejos. Por muitas e boas razões.
O ciúme é o desejo interrompido; a percepção de "roubo" do objecto do desejo. E, assim, é ainda, também, uma manifestação de irracionalidade pré-consciente. Porque não é, em si mesmo, consequência da racionalização sobre a razoabilidade ou não do acto consumatório, mas a percepção de arrebatamento externo do objecto.
Por outro lado, desejo e ciúme são miragens simétricas de propriedade: desejo "ter" e sinto ciúme por perceber a perda do que "desejo ter". Neste sentido, estamos, portanto, na superfície do ser. Porque toda a propriedade é externa. Não sou o que tenho, nem o que tenho me define.
Tudo isto quer também dizer que quanto mais nos adentramos no que somos, menos o desejo nos invade e comanda. E menos o ciúme nos frustra.

3 comentários:

Fernando Santos (Chana) disse...

Olá Amiga, o ciúme nasce do censo de posse. No ciúme existe sempre um receio de perda.
Beijos

take.it.isa disse...

quando não se consegue racionalizar o ciúme, está o caldo entornado...

muito bom o texto!

beijo xana

Sky Walker disse...

Não vale a pena o cuíme pois corroi por dentro e não aproxima ninguem
Beijo meu...