sábado, 8 de setembro de 2007

Pessoas únicas...


"It's easier to leave than to be left behind.", cantavam os REM há dois anos atrás. Lembro-me de na altura ter pensado muito nisto, no que custava mais - se deixar, se ser deixado - e de nunca ter chegado a uma conclusão muito certa sobre o assunto. No mundo dos vivos, quando somos nós a ir embora ou os outros a nos virarem costas, há sempre a possibilidade de mudar de ideias, de voltar atrás. Há sempre tempo para tudo, julgamos. Que erro mais cego, que lição mais cruel. Chega um dia que é cinzento, que não tem cheiro nem sabor, que não é igual a mais nenhum porque não é um dia, é uma noite sem fim, chega um dia que é cinzento, em que não sentes os pés porque já não sabes andar, não tens fome porque não há espaço para nada no vazio em que estás, chega um dia que é cinzento, em que descobres que chorar pode ser não deitar uma única lágrima, que querer abraçar pode ser ter medo, ter pavor de abraçar. O dia em que és deixado, em que te viraram costas. Não por uns tempos, não por semanas. Para sempre. No dia em que és deixado, quem te deixa está também a ser obrigado a deixar-te. Não quer ir embora, mas de um lugar qualquer o puxam com mais força que o nosso amor e o levam até a História deixar de o ser. Por isso a morte é um lugar estranho. Não se sabe onde está, quando vem, porque aparece, para onde vai, e o que por lá se faz. Por lá passei, e nada sei.
Se não fosse essa imposição do "ter de partir", hoje a minha avó estaria na terra presente em corpo,não ausente.E,garanto-vos,ela não queria ir embora por nada deste mundo, onde todos gostavam dela por ser a mais brincalhona e a mais simpática, a que mais lutou e a que mais colheu, a que mais sofreu e a que mais deu, a que mais riu, tanto, tão alto, tantas vezes. E deixou o legado do riso que vem dos confins da alma com a única neta, aquela que viu nascer, o primeiro sorriso, os primeiros passos, de mão dada entramos na escola da minha vida. Aquela que lhe quis dizer tantas coisas mas não foi capaz, porque o tempo corre mais depressa que o coração. A minha avó era única - não há cliché mais verdadeiro para a definir. E por ter sido única em vida, continua a ser única agora. Avó,sei que estás numa nuvem qualquer a acompanhar as minhas desventuras, nunca deixes de sorrir. Um dia... nesse tempo sem tempo, nos encontraremos no mesmo sorriso.

Não, hoje não estou em baixo. Hoje não sei onde estou.

1 comentário:

butterfly disse...

Eu tenho um grupo de 2pessoas únicas". Não sei quantas são porque isso não é importante.
passaram ou ainda estão na minha vida.
Ficarão, sempre, na minha memória porque estou cheia de marcas de afecto, gravadas na minha alma.
beijo