domingo, 22 de julho de 2007

Coração sem imagens


Deito fora as imagens,
Sem ti para que me servem
as imagens?
Preciso habituar-me
a substituir-te
pelo vento,
que está em toda a parte
e cuja direcção
é igualmente passageira
e verídica.
Preciso habituar-me ao eco dos teus passos
numa casa deserta,
ao trémulo vigor de todos os teus gestos
invisíveis,
à canção que tu cantas e que mais ninguém ouve
a não ser eu.
Serei feliz sem as imagens.
As imagens não dão
felicidade a ninguém.
Era mais difícil perder-te,
e, no entanto, perdi-te.
Era mais difícil inventar-te,
e eu te inventei.
Posso passar sem as imagens
assim como posso
passar sem ti.

E hei-de ser feliz ainda que
isso não seja ser feliz.

1 comentário:

Teresa Durães disse...

tive pesadelos a noite toda. medos. deitei-me cedo e engoli as horas todas entre o acordar dormir horror. acordar, voltar a dormir carregando na mão o círculo que deveria atenuar as horas. sonhei com gente que partia, gente com medo. eu que o sentia.

nos meus medos os filhos e os amigos. fragmentados.

acordei tarde e tinha uma filha nova. igual à de sempre na imagem.

acordei com o telefonema a anunciar que talvez o meu filho vá estudar para longe do meu regaço.

e em baixo, de sorriso terno, a minha filha dos deuses que um dia também sairá.

não amo ninguém menos e se os medos e tristezas me assolam, continuo com a escrita leitura música.

nos abraços temos o calor. mas, o que é o amor? "quem me leva os meus fantasmas"?

e na dúvida, na dor, na angústia, na solidão que me invade até acompanhada, não há lógica no absurdo da condição humana e um pé atrás do outro é a fonte dos dias

... incompletos, sempre incompletos.

beijos